domingo, 17 de junho de 2012

Desafio de Ciclismo Pe. José de Anchieta 2012 (diário de um "caça-foice")



Final de semana passada participei da minha primeira prova de ciclismo, o Desafio Pe. José de Anchieta. Saímos da praia de Camburi em Vitória e fomos até o município de Anchieta, no sul do estado, num percurso de 86km. Como bom caça-foice que sou, não vinha treinando regularmente por causa de outros compromissos, aquelas velhas desculpas de sempre, mas quando soube da prova me animei e fiz um treinamento intensivo com a equipe Omega nas últimas duas semanas. 


Segue aqui um relato da prova, minhas impressões e comentários:


Largada:
Fui pedalando de casa até Camburi, cheguei cedo pois o kit com a numeração seria entregue no local da largada. Chegando lá encontrei praticamente todo mundo que pedala em Vila Velha e Vitória. O ambiente era muito descontraído com brincadeiras e fotos. Afinal o ciclismo capixaba estava em festa! Ciclistas de várias idades e categorias diferentes numa mesma prova, e ainda recebendo atletas profissionais de outros estados, já que a prova valeu pontos pro Ranking da Confederação Brasileira de Ciclismo.A largada foi dada após o hino nacional e o pelotão entrou em movimento.


km 02 (Praia do Canto):
Entramos na praia do canto no maior pelotão de bikes que eu já tinha visto. Cerca de 300 atletas serpentiando pelas curvas da cidade. Várias pessoas nas calçadas e nas praças adminirando o pelotão com olhos curiosos. Para muitos foi o primeiro contato com uma prova dessa magnitude. Ponto para o esporte!


km 06 (Terceira Ponte):
O pelotão afunila e se espreme em uma pista só para passarmos na via expressa do pedágio. A subida é cruel, ainda bem que estamos no comecinho da prova. A falta de treinamento maltrata o coração! É nesse momento que tenho o meu pico de frequência cardíaca de toda a prova com 180bpm. O vento sul já dá as caras avisando que ia ser o carrasco do dia. Subo a ponte devagar pra não castigar muito as pernas, mas acabo perdendo contato com o pelotão principal, primeiro erro do dia.


km 10 (Vila Velha):
A ponte despedaçou a parte de trás do pelotão principal, criando vários grupos pequenos de caça-foices como eu. Até então a informação que eu tinha é de que a largada oficial seria em movimento então se perdesse o pelotão ali minha vida ia ficar muito complicada. Por isso baixei a cabeça, marcha pesada e acelerei pra pegar o pelotão.


Km 17 (Itaparica):  
Finalmente peguei o pelotão principal. Ufa... agora é passear até a largada e descansar na roda de alguém.


Km 22 (Largada Oficial- Terra Vermelha):
Hora de separar o joio do trigo, nesse caso os ciclistas dos caça-foices. Paramos logo depois do viaduto de Terra Vermelha. Larga a Elite com um carro de apoio, logo após o pessoal da Master, e por ultimo nós iniciantes. Minhas pernas ainda estão 100%, pulmão também. Como demoramos pra largar, consegui recuperar o esforço pra pegar o pelote e ainda deu tempo de mandar pra dentro um carbo-hidrato em gel. O pelotão dos iniciantes sai a todo vapor, pelo visto tem gente que não quer se misturar com “essa gentalha” e parte já a 40km/h. Vão com Deus! Fico no pelotão intermediário na casa dos 30km, sei que o pior ainda esta por vir e o vento sul não ia ajudar em nada.


O pelote vai se esfarelando mais uma vez e fico num grupo de mais ou menos 10 ciclistas. Vamos revessando a cara no vento não muito igualitariamente mas vamos indo bem. 


Km 35 (Pedágio - Queda):
Chegamos no pedágio e um dos funcionários da Rodosol, sempre muito gentis, indicava o caminho pela via expressa: “PRO CANTO, CANTO, CANTO, CANTO!”. Logo depois do pedágio meu grupo diminui a velocidade, uma ambulância está parada prestando socorro pra alguns ciclistas que se envolveram numa queda. Uma das fiscais de prova fala que está tudo bem com eles e seguimos caminho. Não entendi até agora como aquela galera caiu ali, pista boa, reta, sol, será que foi obra de algum caça metido a “sprintista”?


Km 44  (Setiba):
Vamos revezando a frente do “grupeto” a 30km de média até Setiba. Tinha esquecido que com vento sul a reta do pedágio dobra de tamanho. Quando curvamos para o contorno de Guarapari o vento dá uma amenizada mas pra compensar o terreno fica mais complicado. Mas eu treinei aqui, e as pernas ainda estão ok. Vamos simbora!
Em um dos morros me distraio dois segundos, e perco a roda do pelotão. Que vacilo! Corro atrás mas o pelote esfarelou mais ainda, agora somos só 5 e o pior ainda está por vir...


Km 71  (Meaipe):
O contorno de Guarapari é o trecho com maior quantidade de morros, nenhum muito alto, mas a sequência é desgastante principalmente pra mim que não gosta de girar numa cadência muito alta. O problema é que girando   lentamente a força necessária pra subir um morro atrás do outro é maior, e essa força vai se esvaindo aos poucos. Nesse trecho da prova acabo seguindo sozinho a maior parte do tempo, passo algumas pessoas, sou ultrapassado pro outros mas a gente não chega a formar um grupo. Como nessa fase todo mundo já tava castigado, seguir o ritmo do outro apesar de teoricamente ser mais fácil se torna muito complicado. Chego a Meaípe com o sentimento de "o pior já passou! cheguei" mas sou recebido por uma anfitriã bem chata...

Hidratação - Contorno de Guarapari (MonstroFotografia)


Km 86 (Anchieta - Chegada):
... a chuva! Se não bastasse o vento sul na cara durante toda a prova, quando finalmente chego na praia de Meaipe a chuva aperta. O trecho até Ubu (ou Ubá como disse o cara da CBC) é debaixo de uma chuva de vento que rapidamente deixa meu óculos cheio de gotículas me deixando cego. O asfalto tem vários buracos nesse trecho que com a chuva viram poças de lama bem perigosas. Nesse parte da prova minhas energias acabam, diminuo o rítmo, caio pra 23km/h... as vezes até menos. Agora virou passeio ciclístico, o que vale é completar a prova! Já chegando no trevo Dani passa de carro por mim e buzina!!! Minha carona chegou e vai me esperar na linha de chegada! Sebo nas canelas. Passo por um trecho pequeno de paralelepípedos que me deixa com as mãos doendo, mas tá valendo. Poucos metros na minha frente vejo um grupo que tinha passado por mim lá em Meaípe. Vejo que eles estão devagar e aos poucos vou me aproximando. Hora de fazer uma graça, se é pra chegar no final, vamos chegar com classe! Jogo umas três marchas pra cima, posição de ataque, e passo pelo grupinho a toda. Faltavam menos de 2km pra chegada, uma descidinha pra favorecer o sprint final e pronto! Cheguei. Depois de 3h:13m:55s eu cruzo a linha de chegada!


Dados do Percurso (Endomondo)

Incrivelmente, não me sinto cansado no final, as pernas que estavam doendo até meia hora a trás parecem estar zeradas. Será que é endorfina fazendo efeito nos músculos?! Desmontamos a bike, paramos pra almoçar na praia da costa e voltamos pra casa com a medalha no peito! 

Parabéns para os organizadores da prova, por terem agradado a todos, desde o profissional que ganhou na elite, ao caça que aqui vos escreve! Quem mais ganhou com essa prova foi o ciclismos capixaba! 

Ano que vem tem mais!

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3 comentários:

  1. Maravilha de relato! Olha que uma hora vocês conseguem me convencer a adicionar mais este esporte na minha lista!

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  2. Luciano tem uma camisa da Omega separada pra você há muito tempo... só falta você aparecer com a Bike! E mais, com o seu preparo pra corrida você já vai chegar dando show. Eu recomendo!

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  3. Consegui visualizar toda a corrida. E o melhor é que, como admiradora do esporte, me senti parte da corrida, pois relatou com muita humildade. Obrigada por compartilhar!! Voltarei mais vezes lhe visitar. Um abraço!

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