terça-feira, 11 de outubro de 2011

Eric Clapton. Transe coletivo no culto à guitarra.




Finalmente chegou o dia! No último domingo fui ao show de sir Eric Clapton no Rio de Janeiro e foi simplesmente inesquecível ver uma lenda viva aos 66 anos executando solos precisos, crús, quase sem efeitos nenhum, límpidos, sem nenhuma impureza e arrebatadores.

Já no show de abertura, deu pra sentir que a noite seria sensacional. Gary Clark jr é uma estrela em ascenção no cenário do rock e também do soul. Com um baterista com a mão pesada, e um som cheio de ritmo apimentado com solos virtuosos e distorcidos, Gary arrancou aplausos entusiasmados dos previnidos que como eu que não deixaram pra chegar em cima da hora.



Então as luzes se apagam e Eric Clapton sobe ao palco. Eu me sinto como se estivesse pagando uma dívida comigo mesmo, por não ter conseguido ir ao show na apoteose 10 anos atrás.

O show começa com Going Down Slow, intercalando solos com os backing vocals de Michelle John e Sharon White. E ao final ouvimos o primeiro "thankyou"!!!

A platéia parece estar hipnotizada quando começa Key to the highway e o transe só vai se intensificando. A platéia num silencio mortal, como se estivéssemos num teatro ouvindo uma peça de Bach.

Mas então a casa vem abaixo quando o reef de Hoochie Coochie Man explode pelo ginásio, e eu fico pensando: porque esse cara não nasceu negro????? Foi um mero acado do destino talvez, o blues dele é demais.

Passamos para Old Love a primeira balada da noite, o solo de Clapton é indescritível e eu percebo que ele também está em transe, batendo o pé no chão, olhos fechados e dançando desengonçado.


A seguinte é I shot de sherif que me perdoem os fans de reagge mas a versão de Eric é melhor que a original. Alias todo fãn de reagge fora da Jamaica devia agradecer, pois se Clapton não tivesse gravado a música e apresentado Bob Marley ao mundo muitos talvez nem saberiam que ele existiu!

A cada música a banda é ovacionada, e clapton não fala com a platéia. Pelo menos não com palavras, já que com a guitarra nas mãos ninguém fala tão bem quanto ele. Já tinha comentado com minha esposa antes do show que isso ia acontecer, e foi ela quem percebeu uma outra coisa: "Não tem guitarra base nessa banda? Velinho metido hein?"

Na verdade a guitarra base foi substituída pelo piano elétrico de Chris Stainton e o órgão de Tim Carmon. A cozinha super competente com o baterista Steve Gadd e o baixista Willie Weeks escondidos nas sombras do palco, mas conduzindo o show com frases simples e melodiosas, como tem que ser.

Então, Clapton pegou o violão e uma cadeira e chamou o público pra perto da fogueira. Tocou Driftin' e Nobody Knows You When You're Down And Out. Depois pegou a guitarra ainda sentado e mandou Lay Down Sally ( e o transe coletivo continuava).

A única música do último disco foi When Somebody Thinks You're Wonderful, lançado no ano passado.

De repente a bateria começa um reef de caixa, semelhante a uma marcha marcial porém mais lenta e ouvimos o som de Layla, uma versão nova, diferente do disco acústico e também da clássica. A levada bem lenta faz a platéia declamar o refrão junto com a banda, quase como se fosse uma oração. Veja o vídeo e desculpe pela tremedeira no começo!

Layla

Sir Clapton levanta novamente e voltamos com Badge e em seguinda com a mais emocionante da noite, Wonderful Tonight foi pra ouvir abraçadinho e fazendo cafuné!

Chega então uma das minhas prediletas, Before you Accuse Me, o público cantou junto e bateu palmas! Mais uma vez, indescritível.

Em Little Queen Of Spades, os solos de Chris Stainton e Tim Carmon são ovacionados pelo público. A banda fala a mesma língua, e a sintonia e o respeito entre eles era visível para todos.

Chegou a hora da apoteose!!!!! Cocaine com a galera cantando junto! Fim de show, a platéia de pé aguardando o bis, que veio com Crossroads.


Cocaine

Fim do transe. Será? Hoje já se passaram três dias do show e ainda me vejo cantarolando as músicas. Essa foi uma daquelas experiências pra se guardar para toda a vida e poder contar pros filhos dos meus filhos. Depois de domingo a famosa pichação feita na estação de metrô de Islington, Londres, em 1965 tomou outro sentido pra mim. "Clapton is god".


3 comentários:

  1. Fantástico Fernandinho, parabéns pela descrição emocionante e especialmente recheada de paixão por uma música de qualidade ímpar!

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  2. Sou mais Restart. O visual deles também é mais descolado!

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