Imagina que você tem um grupo de amigos de infância que se reúne sempre de quatro em quatro anos para uma grande confraternização. Muitos vem de longe para a festa porque moram em outras cidades. Dessa fez você será o anfitrião e você quer que tudo seja perfeito, afinal os últimos encontros foram grandes festas e você não quer fazer feio.
Para receber todo mundo bem você pretendia fazer algumas reformas em casa, mas a obra não andou da forma que você esperava. Algumas coisas não vão ficar prontas há tempo da festa e o custo foi bem maior do que você esperava. Para completar, recentemente você teve um tremendo arranca rabo com a sua esposa e vocês não estão se falando direito. Apesar dela achar que você está gastando demais com a festa o motivo da briga não foi só esse, vocês já não estão se dando bem faz um tempo e o clima não está bom dentro de casa.
Há trinta dias da Copa do Mundo de 2014 e há cerca de dois anos das Olimpíadas do Rio é exatamente assim que eu me sinto. Uma tremenda festa vai acontecer aqui, querendo ou não ela vai acontecer pois seus convidados já estão a caminho, mas a nossa casa não está pronta e muito menos em clima de festa.
Lá em 2007 e 2009 quando o Brasil foi confirmado como país sede para a Copa e para as Olimpíadas eu fui um dos que comemorou muito. Como um fanático por esporte acreditei que estes eventos eram a chance de mudarmos a vida de muita gente no país, principalmente as Olimpíadas. Era a nossa chance de ter um ciclo olímpico amplo, impulsionar os esportes amadores no Brasil, criar centros de formação espalhados pelo país, apresentar esportes desconhecidos para os patrocinadores, resumindo, usar o esporte como ferramenta de transformação econômica e social.
No caso da Copa o maior legado não seriam os estádios, muito menos o turismo, e sim a infraestrutura. Principalmente em aeroportos e mobilidade urbana. Ter uma capital como São Paulo ou Rio com o Metrô integrado com o aeroporto seria totalmente possível, mas não fomos nessa direção, preferimos sonhar com um trem bala que desde o começo não passou de promessa eleitoreira (assim como o metrô de superfície de Vitória).
O sentimento para muitos brasileiros hoje é de que a Copa não é uma coisa boa e não deveria acontecer. A questão é que a Copa não é só pra gente, o mundo todo vai estar olhando para cá, e de olho não só no que acontece dentro dos estádios mas também no que acontece fora. Para o alemão, inglês, americano ou japonês que vier ao nosso pais a imagem que vai ficar é de um povo que pediu para organizar um evento e não conseguiu fazer direito.
Nós brasileiros sempre colocamos a culpa pelo nosso fracasso como nação nos outros, e ficamos todos melindrados quando um jornal estrangeiro noticia os nossas mazelas. Desculpem-me a franqueza mas quem pediu para FIFA fazer a copa aqui fomos nós, e não o contrário. Demonizar o futebol no Brasil, dizendo que quem apoia a copa é alienado pra mim é radicalismo e não leva a nada. Desculpa companheiro, se o estádio foi superfaturado e o aeroporto não ficou pronto a culpa não é do Neymar. Do mesmo modo se o Brasil for campeão, não vai ser mérito te governo nenhum.
Sei que é difícil, o assunto é polêmico, mas vou tentar ao máximo separar o esporte da política no caso da copa, sou louco por futebol e não me vejo torcendo contra a seleção, por outro lado sei que se o Brasil for campeão isso vai ser usado politicamente e isso teria consequências diretas nas eleições. Cabe a quem consegue fazer essa separação, difundir esse ponto de vista.
Já para as olimpíadas acho o caso até mais delicada, essa semana surgiu na imprensa uma notícia de que o COI teria sondado Londres, sede de 2012, e perguntado se no caso do Rio falhar na organização eles poderiam assumir os jogos de 2016. Hoje, apenas 10% das obras necessárias estariam prontas. Mesmo que isso não tenha acontecido de fato, só um boato desses ter surgido e noticiado já é uma baita vergonha.
No fim, o sentimento que fica é o de frustração, o sentimento de que estamos perdendo duas grandes chances de melhorarmos as coisas no Brasil, de darmos um passo a frente. Perdendo a chance de deixarmos de ser o "País do Futuro" e continuando a ser o país da corrupção e do jeitinho. A festa com os amigos vai acontecer, mas a casa vai continuar sem melhorar, e o clima entre o "marido" e a "esposa" tem tudo para ficar pior.
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